Lucas Felix Dos Santos (Brazil)
Intitulado Irmão Leon, o livro terceiro do primeiro volume de Terra – O Último Capítulo mistura elementos comumente encontrados nas antigas e clássicas revistas pulp para narrar a aventura do velho Leon, um monge de uma ordem que resguarda segredos do passado, e do jovem Vicente, príncipe de um reino que almeja o futuro em um mundo decadente. Situada em uma visão pessimista do futuro na qual a humanidade causara danos indeléveis ao planeta, a novela explora as possibilidades resguardadas neste porvir imaginado.
Escrito por Nathan Banks, a terceira iteração da narrativa se espraia por um mundo repleto de ruínas e rumores incertos sobre um passado quase que insondável para a maioria dos sobreviventes presentes, uma sequência de cataclismos, guerras nucleares e gases tóxicos que, em algum ponto de outrora, causaram mudanças irreversíveis no planeta. Estas são as imagens com as quais a dupla de herois se depara passando em monitores holográficos ao investigarem antigas grutas que os levam a um búnquer esquecido pelo próprio tempo.
Os mistérios descobertos neste primeiro momento abrem as portas para questões ainda mais prementes acerca do passado: a existência e a queda do Conselho Planetário, a Última Guerra que dizimou a humanidade, as localizações de outros dispositivos escondidos em búnqueres no subterrâneo, uma suposta biblioteca contendo textos remotos constituintes da alta cultura de uma civilização antiga.
No entanto, a força que move a novela não se atém tão somente ao passado: se neste a História degringolou de forma intempestiva e terrível, o presente também não se apresenta como a melhor das alternativas àquele. Se se pode nomear uma esperança para tempos mais serenos, a Aliança de Unificação da Europa (AUE) apresenta-se como uma forte candidata a renovar o que um dia fora a civilização humana. Consistindo da coligação de anteriores nações independentes, a AUE tenta a todo custo criar e exercer uma soberania em prol da paz, liderada pelo Imperador Massimo Firenze. Todavia, a tão almejada e inalcançável harmonia em único império se encontra comprometida quando grupos separatistas planejam e executam atentados terroristas que, por um lado, ceifam a vida de cada vez mais civis e, por outro, aliciam membros para a sua causa por meio de tais atos.
Para além de um universo narrativo que se expande à medida que a história nos é contada, os meandros da saga serpenteiam por entre as ações do zombeteiro Irmão Leon, sempre de cantil à mão, falando mais que o necessário em momentos indevidos — trata-se, para além do protagonista, da força motriz no trilhar da novela. A mistura entre aventura e mistério se imiscuem em um contexto pós-apocalítico que mescla fantasia à ficção científica.
Com pitadas de humor, personagens excêntricos e seres enigmáticos, a resposta a todas as perguntas levantadas por essa iteração da saga podem não ser de todo esclarecidas. Por outro lado, contudo, atmosfera e personagens criam uma leitura divertida que nos remete aos tempos idos das revistas pulp, dos romances de folhetim que, ao alcançarem-nos através de mídias e histórias modernas, alçam-nos a recônditos da imaginação quiçá jamais percorridos.